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Quem planta batatas não colhe cenouras

  • Foto do escritor: jahmayconqueiroz
    jahmayconqueiroz
  • 2 de jul.
  • 3 min de leitura

Por Jahmaycon 

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Eu estava assistindo ao seriado “O conta da Aia” e me deparei com uma cena das mais torpes se que se podem ver entre pessoas que usam da religião como ferramenta de controle e opressão. Embora tenha sido uma cena de um seriado distópico, o ocorrido é bem comum na realidade, um paradoxo perigoso que estamos presenciando em várias partes do mundo ocidental, que achávamos, até bem pouco tempo, já termos superado.

A cena em questão mostra uma personagem (Serena Joy) tentando fazer um discurso fundamentalista, alegando que deseja salvar a raça humana, pois a taxa de natalidade está muito baixa. Obviamente que o discurso é um ataque ao progressismo, especialmente a liberdade de reprodução conquistada pelas mulheres de poderem optar pelo direito de não terem filhos. É verdade que o futuro da humanidade pode estar em risco, mas não pela baixa taxa de natalidade, ao contrário a superpopulação é que traz esse risco. Estamos comprometendo nosso futuro pelo consumo desenfreado, que aumenta os danos ambientais conforme aumenta a população mundial.

O mais irônico de tudo no seriado, é que haverá um golpe de estado praticado pela turma fundamentalista, os mesmos que outrora se apresentavam extremamente preocupados com o futuro da humanidade, devido a queda na taxa de natalidade, dizimou metade da população do país. Tudo isso para instaurar um estado baseado no controle total das pessoas, inclusive seus corpos não lhes pertencerão mais.

O mais estarrecedor de tudo é saber que há na sociedade ocidental grupos que buscam fazer exatamente o mesmo que ocorreu no seriado: dizimar os discordantes e explorar suas mulheres (inclusive sexualmente). No seriado, existem as chamada aias, que são literalmente a versão das antigas mucamas do tempo da escravidão, tempo este que muitos desejam ver reinstaurado na sociedade.

Os homens que controlam a sociedade erradicaram toda forma de trabalho de suas esposas, elas passaram a ser meros objetos decorativos da casa, já que todo serviço é realizado pelas aias. Uma sociedade recheada de pessoas frias, sem emoções, onde o medo constante é visível, todos devem obedecer aos comandantes, pois as mulheres podem ser enviadas a campos de serviços forçados e os homens são sumariamente executados. 

É esse tipo de mundo que corremos o risco de ver instaurado no Brasil, se determinado grupo de fanáticos conseguir instaurar seu golpe de estado. Desse grupo de pessoas que usam dos direitos de liberdade de expressão conquistados para exigir o fim da liberdade fazia parte a personagem que se mostrava preocupada com a taxa de natalidade. É nítido que ela não conseguiu um lugar de destaque na sociedade que ajudou a construir, assim como não vão consquistar as mulheres que atualmente ajudam homens reacionários em seus projetos de poder.

A personagem passou a ser uma pessoa triste, solitária, relegada ao ostracismo e futuramente punida por tentar subverter a ordem instaurada, tecendo a leitura de um trecho da bíblia (é válido destacar que das mulheres foi tirado, inclusive, o direito de ler, mesmo que o texto fosse um manifesto em defesa da ordem vigente).

A personagem só está colhendo o que plantou. Ela deveria ter pensado antes, pois o regime nunca escondeu que seria algo parecido com aquilo. Mas ela acreditava com sinceridade estar fazendo o que era melhor para todos, diferente de muitos ativistas do conservadorismo brasileiro que usam da hipocrisia para tentar manipular a mente de pessoas desorientadas. 

Muitas pessoas que hoje apoiam essas ideias acabarão como Serena Joy: oprimidos e infelizes. Eles precisam saber que a verdadeira liberdade está em não precisar fingir ser algo que você não é.

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