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Tá na mão

  • Foto do escritor: jahmayconqueiroz
    jahmayconqueiroz
  • 27 de ago.
  • 2 min de leitura

Por Jahmaycon 

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Estava eu, lendo uma crônica de um aluno quando voltei a minha infância. O texto dele falava da emoção de soltar pipa, de passar o dia todo fora de casa, dos duelos entre um pipeiro e outro no “relo”. Relembrei minha infância em São Roque, quando nas férias, toda molecada só falava de pipa. Não havia outra forma de estar com a turma, não havia outra brincadeira. Então eu tentava me inserir de alguma forma.

Todo mundo, de uma maneira ou de outra, sente a necessidade de pertencer a algum grupo. Se sentir incluído faz muito bem, pois assim as pessoas se sentem importantes, se sentem úteis. Creio que o que mais faz alguém seguir a manada, é conseguir, naquilo que a maioria faz, se destacar. Talvez por isso, quando algo vira moda, cada dia mais gente se junta querendo ser notado. Isso é ainda mais evidente entre crianças e adolescentes, todos querem estar na moda, estar por dentro dos assuntos do momento e poder opinar nas rodas de conversas.

Eu era muito ruim na arte de soltar pipa, aliás, pra ser ruim em algo, é preciso ao menos saber fazer, eu nem isso. Quando meus amigos, ao soltarem pipa, pediam para eu segurar a linha por uns instantes, sabe-se lá porque, a pipa que estava paradinho no ar, sem ele fazer nada, começa a descer. Por vezes, eles amarravam a linha numa cerca e a pipa permanecia no ar, era só eu pegar, parecia que o vento desaparecia, que tinham amarrado uma pedra na pipa, pois ela começava a cair. Logo, eu não sabia soltar pipa, mas queria fazer parte do grupo.

Bolei uma estratégia, comecei a resgatar “os pipas mandados”, (pipa é substantivo masculino na boca de quem o solta) que eram aquelas que perdiam as disputas de “relo” e caiam. A tradição era: quem pegasse era dono. Nisso eu não era ruim, cheguei a ter dezenas de pipas penduradas na parede do meu quarto. Fui feliz por uma temporada.

Ainda naquele mesmo verão comecei a me questionar o porquê daquilo. Me senti ainda mais constrangido por ter um monte de pipas e não saber o que fazer com eles. Desencanei da ideia de fazer parte daquele mundo e doei todas as pipas que tinha resgatado (meu irmão que se beneficiou, este sim, expert nessa arte). Embora pareça uma atitude tola, ter me metido a correr atrás de pipa que eu nunca ergueria ao vento, foi um aprendizado importante para mim: entender o meu lugar e acima de tudo fortalecer esse lugar, aceitar que eu era diferente e estava tudo bem ser assim.

A partir de então, ao invés de tentar fazer o que a maioria fazia, comecei a fazer o que fazia eu me sentir bem. A pessoa que sou hoje passa por isso. O outro lado também é importante observar, é legítimo fazer o que a maioria faz, se se sente bem assim. Ou seja, o importante é se reconhecer, aceitar isso e seguir fazendo e se divertindo, especialmente quando se é criança ou adolescente.

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